Galeno Amorim informou que a B. N. receberá 7,8 Milhões para a tradução de livros brasileiros. |
A Biblioteca Nacional,
oitava do mundo em acervo, será neste ano uma das mais atuantes instituições
públicas do Brasil a lançar mão de políticas tradicionalmente associadas ao
soft power. Além de promover a tradução de obras de autores brasileiros para inglês
e espanhol, está iniciando um programa para criar bibliotecas nas fronteiras do
país com seus vizinhos na América do Sul.
Para o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Galeno Amorim, a
literatura é um meio "eficaz" de proporcionar um mergulho na cultura
de um povo. A instituição acaba de criar uma área internacional para ampliar a
ação no exterior, o Centro Internacional do Livro. Por trás da iniciativa,
porém, está a estratégia de atrair investimentos e compradores para o mercado
brasileiro de livros.
O Brasil
é o 11º mercado de livros do mundo, com perspectiva de crescimento, segundo o
presidente da FBN, já que novas parcelas da população começam a ter mais acesso
a educação e cultura. Estima-se que o país tenha cerca de 100 milhões de
leitores declarados, embora 80% afirmem não ler regularmente, segundo Amorim.
"A
literatura brasileira circulou melhor no passado. Queremos retomar isso",
diz ele, que anunciou recentemente um programa de R$ 7,8 milhões para estimular
a tradução de livros brasileiros. "Há uma percepção generalizada dentro e
fora do governo de que chegou a hora. Isso é bom para o Brasil, leva produtos e
serviços e amplia as trocas acadêmicas".
Em em
abril próximo, o Brasil será o homenageado da 25º Feira Internacional do Livro
de Bogotá. Em 2013, é a vez de uma homenagem na Feira do Livro de Frankfurt, a
mais importante do mundo. Em 2014, será homenageado na Itália, na Feira do
Livro Infantil de Bolonha, a maior do gênero no mundo. Há negociações em curso com
outros países, como a França, adianta Galeno. A estratégia é atrair editores
dos países desenvolvidos. E, por isso, a participação em feiras internacionais
é essencial. "É o que dá a visibilidade inicial aos nossos títulos."
Bibliotecas de fronteira
No fim de
2011, a gigante inglesa Penguin Book realizou um grande negócio no Brasil, ao
comprar a Companhia das Letras. Neste ano, uma comitiva de editores ingleses
irá ao Brasil pela segunda vez, capitaneada pela Publishers Association (PA) -
a primeira visita foi em 2011. Por isso, a FBN vai promover com editoras
brasileiras encontros preparatórios na London Book Fair, entre 16 e 18 de
abril.
"No
passado, depois da vinda de espanhóis e portugueses, agora parece haver uma
onda de investimentos inglesa. Isso é bom, porque as primeiras editoras
estrangeiras que vieram trouxeram títulos e, em seguida, começaram a buscar
autores brasileiros. Então podemos imaginar que o mesmo acontecerá com as
inglesas", diz o presidente da FBN.
Amorim
afirma haver no setor uma tendência à internacionalização de marcas, movimento
que ele promete acompanhar atentamente "para evitar que as editoras
brasileiras percam competitividade".
A FBN
também tem uma frente regional, voltada à América do Sul: abrir bibliotecas de
fronteira,s com acervo bibliográfico bilíngue, mobiliário e equipamentos de
informática nos municípios brasileiros que ainda não possuem uma instituição do
gênero, especialmente nas áreas fronteiriças.
O projeto
identificou cidades gêmeas que poderiam receber essas bibliotecas de fronteira,
tais como Tabatinga (AM) – Letícia (Colômbia); Ponta Porá (MS) – Pedro Juan
Caballero (Paraguai); Dionísio Cerqueira (SC) – Barracão (PR) – Bernardo de
Irigoyen (Argentina); Uruguaiana (RS) – Paso de Los Libres (Argentina);
Sant’Ana do Livramento (RS) – Rivera (Uruguai). "Em relação aos países
lusófonos, em julho lançaremos edital para apoiar a ida de editores (para
rodadas de negócios)", diz Amorim.
A FBN
também vai iniciar ainda neste ano o que Galeno chama de Colégio de Tradutores.
A instituição vai dar bolsas para tradutores estrangeiros que serão alocados em
cidades históricas, de acordo com o interesse de suas pesquisas, para se
aprimorarem e tomarem contato com a cultura local. Já há negociações com França
e Alemanha para parecerias. "E, na Feira Literária Internacional de
Paraty, a Flip, vamos lançar os editais para dar apoio financeiro à ida de
autores brasileiros para divulgarem seus livros no exterior", afirma
Amorim.
A Biblioteca também lançou revistas com amostras
de novos trabalhos de autores brasileiros em inglês e espanhol. "Por
razões táticas, podemos fazer edições em outros idiomas", diz o presidente
da FNB.
Rodrigo Pinto
Da BBC Brasil em Londres