Em 1988 um paraibano surpreendeu
o mundo e colocou o Brasil na rota do surfe mundial. Desacreditado até mesmo em
seu país, que depositava todas as fichas no catarinense Teco Padaratz, o então
desconhecido Fábio Gouveia deixou a pequena Bananeiras para se tornar o
primeiro brasileiro campeão mundial de surfe, em Porto Rico. Agora, 25 anos
depois, um outro surfista da Paraíba pode fazer o mesmo caminho.
Foto: Lucas Barros / Globoesporte.com/pb |
Confirmado no time brasileiro
para o Mundial do Panamá, o pessoense José Francisco dribla a falta de
patrocínio para seguir a trilha de Fabinho. Com um detalhe: Fininho, como a
jovem promessa é conhecida, é um ex-menino de rua. Ele passava fome, perambulando
pelas principais ruas de João Pessoa, quando foi acolhido por um apaixonado por
surfe, que prometeu lhe ensinar os segredos do esporte desde que ele se
comprometesse a diariamente frequentar a escola.
A história deu certo. E hoje, vivendo do surfe mesmo com as dificuldades da falta de patrocínio, se espelha no conterrâneo Fábio Gouveia.
A história deu certo. E hoje, vivendo do surfe mesmo com as dificuldades da falta de patrocínio, se espelha no conterrâneo Fábio Gouveia.
Fininho quer fazer do Mundial um divisor de águas na carreira. Sem patrocínio, o surfista ainda não sabe como vai fazer para viajar. Até porque a Confederação Brasileira de Surf (CBS) decidiu não bancar os custos da seleção para a viagem em maio.
"O cara é um ídolo, né? Aprendi a surfar ouvindo as histórias do Fabinho. Ele tem um estilo diferente. Procuro sempre seguir essa linha." Admite José Francisco.
A história de Fininho já é uma vitória pessoal. Antes mesmo de entrar para a seleção brasileira de surfe, o paraibano pode se considerar um campeão da vida. Ex-menino de rua, passava horas no Bar do Surfista pedindo ajuda a um e a outro. Ali, descobriu o surfe, ao lado de outros garotos que apareciam pedindo uma prancha para Valdir Silva, o dono do bar.
Quem sabe agora, disputando um Mundial, vai aparecer alguma coisa. Quero ser um campeão mundial um dia... Quem sabe não é agora?
"Vai ser complicado. Vou atrás de patrocínio. Já deixei meu currículo em várias empresas."
A história de Fininho já é uma vitória pessoal. Antes mesmo de entrar para a seleção brasileira de surfe, o paraibano pode se considerar um campeão da vida. Ex-menino de rua, passava horas no Bar do Surfista pedindo ajuda a um e a outro. Ali, descobriu o surfe, ao lado de outros garotos que apareciam pedindo uma prancha para Valdir Silva, o dono do bar.
- No começo eu deixava que ficassem por aqui surfando com pranchas que eu emprestava. Mas depois eu condicionei essas pranchas a que eles estudassem - disse Valdir, que em 2005 deu uma bicicleta a Fininho, presente pelo garoto ter aprendido a ler e escrever na escola.
- Se eles souberem ler e escrever, pelo menos serão alguém - completou o empresário, primeiro incentivador de Fininho, e que não consegue esconder a voz embargada e as lágrimas ao reconhecer o pupilo nas manchetes de jornais do Brasil inteiro.
'Mãe adotiva' entre as tartarugas e o surfe
A vontade de Fininho praticar o surfe sensibilizou a bióloga Rita Mascarenhas, da ONG Guajir.
Fotos: Divulgação PBSurf e Sérgio Aguiar |
- que cuida da preservação de tartarugas marinhas na orla de João Pessoa.
O carinho virou amor e logo a
bióloga convidava o surfista a morar com ela. Hoje, a relação é de mãe e filho.
Tanto que Rita, não conseguiu segurar a emoção quando soube da convocação de
Fininho para o Mundial do Panamá.
Fininho também não conseguiu esconder essa emoção. O Mundial é a realização de mais uma etapa na vida: conhecer o exterior. Mais do que isso, é o primeiro passo para se tornar um novo Fábio Gouveia.
"Jura? Ele vai para a seleção? Nossa, estou muito feliz. Sabia que ele estava cotado, mas... É muita emoção." disse Rita, ao receber a notícia da reportagem, por telefone.
Para isso, no entanto, terá que conseguir dinheiro para passagens e hospedagem, já que a CBS não arca com nenhuma despesa da equipe no Mundial. O que não parece ser problema.
Do Bar do Surfista ao Mundial da ISA"Vou atrás, tenho que conseguir isso" - diz Fininho, com a determinação de que esse é só mais um obstáculo a ser vencido.
Disputar o Mundial da ISA, a mesma competição que consagrou Fábio Gouveia, parece ser o ápice de uma trajetória que ainda não tem final programado. Algo que o pequeno José Francisco da Silva Neto jamais poderia sonhar ao sair da comunidade do Jacaré, em Cabedelo, para mudar o seu destino.
Os pais, dependentes de álcool, haviam perdido tudo - inclusive a casa onde moravam. Nada poderia ser pior. Foi então que Fininho decidiu deixar de lado os seis irmãos e vagar pelas ruas de Intermares. Lá, conheceu o Bar do Surfista.
- Nunca imaginei nada disso. Não sabia o que era surfe. Vi e gostei. Depois disso, minha vida mudou completamente - avalia o paraibano, hoje com 18 anos, e segundo melhor em sua categoria no ranking da Confederação Brasileira de Surfe.
Da promessa feita a Valdir Silva e a Rita Mascarenhas, Fininho não esquece. O sucesso com o surfe já é uma realidade, mas nem assim o garoto desistiu de estudar. Cursando o nono ano do ensino fundamental, ele faz planos para morar no Rio de Janeiro assim que concluir o ano.
Thiago M. Florentino
Fonte: G1Paraíba