Mas não vamos fazer dessa morte um estopim para mais violência, e nem uma pá de cal sobre a voz das ruas. O movimento segue sempre em busca de novas linguagens. São muitas vidas em jogo. Não podemos esquecer que quem trouxe a violência para as ruas foi o próprio Estado, lembram de junho?
Essa tragédia não irá ocultar a culpa daqueles que fizeram da violência o falso mote da luta nas ruas. Não vamos esquecer o real motivo de centenas de milhares de pessoas saírem de casa, na iminência do aumento das passagens.
O que não se fala é que não foi apenas Santiago que morreu. Ele não foi a primeira vítima da violência nos protestos no Brasil, nem a primeira morte do ato da última sexta feira. Poucos souberam do óbito do ambulante Tasman Amaral Accioly, um idoso, atropelado por um ônibus durante o caos instaurado pelas bombas da Polícia Militar em plena Central do Brasil, ou dos casos ocorridos em Belo Horizonte e Ribeirão Preto (SP) no ano passado.
Invisíveis também são milhões de vítimas de um sistema que mata, impiedosamente, todos os dias.
A versão oficial dos fatos está na mão de justiceiros seletivos, que ocultam cadáveres, ocultam violências, até que surja uma que se encaixe em sua narrativa que criminaliza a todos.
Não acreditamos na violência enquanto metodologia para solucionar os problemas do Brasil, que são fruto, eles próprios, de mais de 500 anos de brutalidade por parte do Estado. Reprimir não é gerenciar.
A violência, por si só, perde o sentido, não precisamos mimetizar a brutalidade dos nossos inimigos. As ruas vazias só favorecem os mandos e desmandos dos que não precisam dialogar com as multidões.
Nos solidarizamos com a família, os amigos e os companheiros de trabalho de Santiago Ilídio Andrade.
Que os atos de hoje e de amanhã, justos e necessários, sejam também uma homenagem a sua vida e a vida de todos que morreram documentando e lutando por um país diferente.