quarta-feira, 1 de maio de 2013

Correção de alguns enganos referentes à abreviações

Quem faz mestrado no Brasil é mestre ou mestra, certo? Mestre ou mestra em alguma área do conhecimento humano. No meu caso, meu título é o de “Mestre em Educação” - o que está grafado no meu certificado. Isso todo mundo entende, e bem.

O problema começa quando vão abreviar o termo “Mestre”. Deparo todos os dias com “Ms.”, a abreviatura para “manuscriptos” (manuscrito), como sugere a Academia Brasileira de Letras (ABL*).

A par desse “Ms” aí, tenho visto “Msc.”, abreviatura do inglês “Master of Science” (Mestre em Ciências), para designar a abreviatura da titulação de pessoas que nunca estiveram estudando nos Estados Unidos da América do Norte -o que insistem em grafar para designar o meu título que, como foi dito acima, é o de Mestre em Educação, ainda que uma dissertação de Mestrado seja um produto científico (o meu eu o obtive na Unifersidade Federal de Uberlândia).

Entretanto, meu título não se refere a “Manuscrito”, nem é de “Mestre em Ciências”. No entanto, há quem insista em usar essas formas, erradas, ao largo de “Me.”, a abreviatura em Língua Portuguesa para Mestre. Mestra recebe a abreviatura “Ma.”, fórmulas mais próximas daquilo que sugere a ABL, que aqui neste texto surge não como um "magister dixit" medieval, mas como uma referência, exatamente por estar diretamente ligada à Língua Portuguesa.
 
Outra confusão que fazem é com “PhD”, que, latina, mas consagrada em inglês, é a abreviatura para “Doctor of Philosophy” (Doutor em Filosofia).

Mas a forma “PhD” tem sido usada em lugar de “Dr.”, abreviatura para “Doutor”, em Língua Portuguesa. “Dra.” é a forma abreviada de “Doutora”. Mas não são essas formas que prevalecem. Pergunto: por quê?

Depois de uma série de conversas com colegas e de algumas pesquisas, cheguei à conclusão de que devo valorizar a língua materna. Em função disso, adotei, desde que a tenho, a fórmula “Me.”, quando a indicação da minha titulação se faz necessária nos meandros da burocracia acadêmica brasileira.

Embora tenha tomado essa providência, minhas dúvidas persistem: por que será que as pessoas continuam ignorando a maneira correta de empregar esses elementos de nossa língua? Será desconhecimento? Ignorância? É a tão manjada submissão ideológica aos norte-americanos dos Estados Unidos a causa dessas impropriedades? É muito difícil diferenciar quem obtém titulação no Brasil (o meu caso) de quem a alcança nos Estados Unidos?
 
Dizem que um povo que ignora os próprios valores termina por não ter história.

De minha parte, penso que o povo que não sabe defender a língua-pátria também não saberá o que é soberania, amor-próprio, auto-estima e, principalmente, a importância dos valores em meio aos quais vive.

É por essas razões e por querer defender a cultura brasileira, defender os nossos valores e as nossas especificidades diante de outras nações, que paro e escrevo esse tipo de texto. Sei, entretanto, que isso é questiúncula diante das aberrações políticas, educacionais e de outras naturezas que campeiam meu país. São tristezas que não invalidam esta discussão sobre a valorização da língua materna. Como educadores, ela diz respeito a todos nós.
* Para Mestre, a ABL sugere M.e.; para Mestra, a mesma ABL propõe M.ª, fórmulas que muitos julgam confusas e esteticamente intragáveis -opiniões com as quais concordo. Em todo caso, vale consultar: PUCRS Abreviaturas.

Texto de Wilson Correia; Doutor em Educação pela UNICAMP e Adjunto em Filosofia da Educação na UFRB. 

Thiago M. Florentino