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Eliane Barbosa Cortesia bbc - cortesia para o BBC/Brasil |
Além de ter menos acesso a planos de saúde do que brancos, a
população negra também sofre uma "discriminação institucionalizada"
nos serviços públicos de saúde do país, segundo o diretor do Fundo Baobá,
Athayde Motta.
"De alguma forma, os serviços do Estado reproduzem o preconceito de
parte da sociedade. Pesquisas mostram que nos locais onde a maior parte da
população é negra o serviço tende a ser pior", diz Motta.
A tese defendida por Motta, que dirige o Fundo Baobá, uma ONG que viabiliza
projetos que promovam a equidade racial, já foi sentida na pele por Marcelo
Antonio de Jesus.
Educador em uma ONG em São Paulo, 36 anos, Jesus conta que "durante
exames", já sentiu "que há o receio de alguns médicos de tocar o
paciente, pelo fato de ser negro".
"Isso também ocorreu com familiares. No meu caso, em uma ocasião, fui a
dois médicos diferentes. Um deles nem me examinou e deu o diagnóstico só a
partir do que eu havia contado", disse.
Eliane Barbosa, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo que
publicou um trabalho analisando políticas públicas que lidam com desigualdade
no país, diz que parte dos médicos dão tratamento diferenciado a indivíduos
brancos e negros, mas não apenas ns serviço de saúde público como também no
privado.
"Em alguns casos os médicos consideram que as mulheres negras, por
exemplo, são mais fortes que as brancas, que elas não precisam dos mesmos
cuidados", diz Eliane, que tem 40 anos e faz parte da parcela dos 15,2%
dos negros que possuem plano de saúde no Brasil.
Segundo pesquisa do Instituto Data Popular, a proporção dos brancos com
acesso plano de saúde é o dobro, ou 31,3%.
'Racismo inconsciente'
Para Eliane, não se trata necessariamente de um "um preconceito
racional" por parte dos profissionais de saúde. "Não quer dizer que eles querem discriminar alguém", diz.
"É uma questão de referência dos médicos, geralmente homens e mulheres
brancas. É uma questão muito profunda, uma reprodução inconsciente de um
comportamento (racista da sociedade)", diz.
Marcelo Antonio de Jesus, que é educador, defende que a questão seja
abordada nos cursos de medicina do país. "É necessária uma quebra de cultura. Boa parte dos estudantes de
medicina vem de uma elite. É difícil que esses profissionais queiram depois
atender na periferia. É até compreensível, porque eles vão encontrar uma
realidade muito diferente da que vivem. Por isso a educação é importante",
diz.
Eliane também acha que é preciso incluir a questão racial nas universidades.
Ela lembra, ainda, que existem algumas doenças com maior incidência em determinados
grupos, "como é o caso da pressão alta entre os negros", diz.
Ascensão e discriminação
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Marcelo Antonio de Jesus cortesia para o BBC/Brasil |
A ascensão da classe C no Brasil permitiu um acesso maior de parte
significativa da população negra brasileira a renda e consumo. Mas, segundo
Athayde Mota, isso não significa que a discriminação racial diminuiu.
"A ascensão da classe C está transformando a vida dessa população em
vários sentidos. Mas a discriminação racial continua a se manifestar, só que
agora em outros locais. O preconceito aparece em restaurantes e locais que os
negros não frequentavam", diz Motta.
Thiago M. Florentino
Fonte: BBC/Brasil