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Para se ter uma ideia
da gravidade do quadro, em um ranking da Secretaria de Previdência do
Ministério da Fazenda reunindo todos os motivos que provocam o afastamento do
trabalhador da empresa, a depressão aparece na vigésima posição. Ou seja, ela
está entre os motivos que mais geram concessão de auxílio-doença acidentário –
quando a pessoa é afastada da atividade por mais de 15 dias. Em 2016, 3.393
benefícios foram concedidos por causa de depressão.
O número ainda é
menor do que o das fraturas nos punhos, mãos, pernas e tornozelos, que aparecem
nas duas primeiras colocações, e também é inferior ao das dores nas costas, a
terceira principal causa de afastamento no Brasil. Mas, nem por isso, menos
grave, como alerta a diretora do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho
do Ministério do Trabalho, Eva Gonçalves Pires. “O tempo de afastamento por
depressão e ansiedade costumam ser muito maior do nos casos de acidentes,
porque o tratamento é mais prolongado e a recuperação mais demorada”, lembra.
Além disso, o
assistente técnico do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, Jeferson
Seidler, lembra que ainda existe uma dificuldade em diagnosticar corretamente a
depressão e em fazer o nexo da doença com o trabalho, o que faz com que haja
uma subnotificação dos casos. “No acidente típico, por exemplo, com máquinas, a
lesão é evidente e compatível com o relato da vítima, e dificilmente há dúvida
quanto à caracterização da ocorrência como acidente de trabalho. Nos
transtornos mentais, inclusive as depressões, não. Primeiro, porque o
diagnóstico é mais subjetivo, e, segundo, porque, além de fazer essa análise
clínica, é preciso observar se o trabalho teve ou não influência no
desencadeamento ou agravamento dos sintomas”, explica.
Somado a isso, existe
o fato de que as organizações o Brasil, no geral, não se preocupam em promover
ambientes de trabalho que levem em conta a saúde mental dos seus trabalhadores,
já que a legislação do país não trata desse aspecto. A auditora fiscal do
Trabalho, Luciana Veloso, que tem doutorado em direito com foco na saúde mental
do trabalhador, diz que o problema tem se agravado, sobretudo, nos últimos 30
anos.
“As empresas,
preocupadas em lucrar cada vez mais, foram adotando modelos de gestão que
colocam metas muitas vezes abusivas aos trabalhadores, utilizam sistemas de
avaliações individuais que estimulam a competitividade entre eles e cobram
resultados o tempo todo. As pessoas trabalham muito, sob pressão e na cultura
do “cada um por si”. Isso acabou com a solidariedade entre os colegas nas
empresas, e o trabalhador foi ficando fragilizado e mais vulnerável a abusos
psicológicos, como assédio moral, por exemplo”, explica.
Luciana lembra que,
ao contrário dos acidentes de trabalho, que dependem apenas do conteúdo das
tarefas do trabalhador, no adoecimento mental o contexto do trabalho também
conta. É mais comum ocorrerem problemas em empresas onde a comunicação é
ineficaz ou inexistente; a remuneração é baixa; as tarefas são incompatíveis
com a qualificação do trabalhador (normalmente trabalhadores qualificados
executando tarefas menos importantes); as ameaças de demissão são constantes; e
os casos de discriminação e assédio moral e sexual são mais comuns.
“Em países mais
desenvolvidos, já existe uma preocupação com a saúde mental dos trabalhadores.
No Brasil, infelizmente, o que vemos é um atraso. E as pessoas estão ficando
doentes e indo trabalhar doentes, a base de remédios. Enquanto não nos
preocuparmos como o problema, ele continuará ocorrendo”, constata.
Assessoria Min. do Trabalho
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