Mesmo
com todo empenho da Polícia Civil em prender a quadrilha especializada em
fraudar concursos públicos, os clientes desta organização criminosa podem
conseguir escapar da punição e continuarem trabalhando em seus cargos públicos
caso os prefeitos não façam sua parte.
Segundo o advogado Arthur Navarro, especialista em
Direito Administrativo, a demissão dessas pessoas só pode acontecer por meio do
procedimento administrativo disciplinar (PAD). "A investigação feita pela
polícia vai aplicar penas para os crimes cometidos, mas não pode determinar a
demissão. Se a população não cobrar e o prefeito não se mover para instaurar o
PAD, essas pessoas continuarão com o vínculo de servidor público",
explicou.
As prisões aconteceram
na manhã do último domingo (7) em um
condomínio de luxo no bairro do Cabo Branco, Zona Leste de João Pessoa. Ao
todo, 12 pessoas foram presas. Além das prisões, sete carros pertencentes aos
suspeitos foram apreendidos. Em Natal, no Rio Grande do Norte, outras cinco
pessoas foram presas também suspeitas de participação na quadrilha.
Segundo o delegado Lucas Sá, responsável pelo
caso, entre os 40 clientes suspeitos já identificados pela polícia, cinco
chamaram a atenção do delegado Lucas Sá, pelo perfil social. São membros de
famílias tradicionais de João Pessoa, que tiveram acesso aos melhores sistemas
de ensino.
"Isso realmente nos impressiona, porque são
pessoas que tinham condições de ser aprovadas por mérito, dadas as condições
econômicas e o acesso ao ensino de qualidade. Mesmo assim, preferiram o caminho
mais curto de ser aprovados com fraude", disse.
Segundo o delegado, a maioria dos candidatos que
compraram os serviços criminosos é de pessoas com bom poder aquisitivo. "O
valor cobrado pela organização não era baixo. Não era para qualquer um",
acrescentou Sá.
Quadrilha
de atuação nacional
Outra constatação feita pelo delegado Lucas Sá,
dois dias após as primeiras prisões, é que a quadrilha presa no domingo não
agia apenas na região Nordeste, como se imaginou inicialmente. "Já temos
confirmação de fraudes aplicadas por eles em várias outras regiões, a exemplo
de concursos em São Paulo e no Amazonas", disse.
Como
funcionava
De acordo com a DDF, o primeiro concurso fraudado
pelo grupo foi o da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em 2005 e,
desde então, a quadrilha agia de maneira ininterrupta. Os concurseiros
procuravam o grupo através das redes sociais e os criminosos os orientavam que
o esquema só seria realizado se 10 estudantes topassem participar da fraude.
Para isso, era cobrado um valor de 10 vezes o salário da vaga a ser alcançada.
Ainda segundo a DDF, o preço variava de R$ 30 mil a R$ 150 mil.
Quando os alunos fechavam o 'pacote' para o
esquema, o grupo acionava professores de várias disciplinas como português,
informática e matemática, que se inscreviam no mesmo concurso dos alunos
beneficiados. Os professores repassavam as respostas da prova para o 'QG' em
João Pessoa (PB) e os chefes do núcleo repassavam o gabarito para os alunos via
ponto eletrônico. A Polícia Civil estima que 500 pessoas tenham sido
beneficiadas durante todo o período de atuação da quadrilha, sendo 200 delas
somente na Paraíba. O 'cardápio' de provas era extenso. Concursos municipais,
estaduais e federais eram fraudados pelo grupo, dentre eles um concurso para
Delegado Federal e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado.
'Kit
completo'
Segundo a polícia, o grupo não facilitava somente
a aprovação dos candidatos. Dentro das atividades oferecidas pelos suspeitos,
estava o 'Kit Completo'. Com esse 'pacote', a quadrilha disponibilizava
diplomas de nível médio e superior, além de títulos e qualquer documentação
necessária para o beneficiado se inscrever na prova.
Concursos
fraudados
Abaixo, você confere a lista de alguns órgãos que
tiveram participação de beneficiados da quadrilha:
- Guarda Civil (Prefeitura do Conde)
- IBGE
- Polícia Civl (Pernambuco)
- UFPB
- UFRPE
- UFAL
- IFAL
- CRM (Paraíba)
- HU (Campina Grande)
- TRE (São Paulo)
- TRT 11ª
- TRF 2ª
- DEPEN
- CRO (Paraíba)
- UFBA
- Prefeitura Maceió
- Ministério Público (RN)
Jornal Correio da Paraíba
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